O despertador toca. Maldito! Quem o mandou acordar? Quem o mandou acordar-me? De olhos fechados, tiro o braço de baixo do lençol, de baixo do cobertor, de baixo do edredão e, entre o dormir e o acordar, vou pelo escuro em direcção ao som irritante. Às apalpadelas, sabendo inconscientemente onde está, dou-lhe uma pancada.
É sempre assim. Todos os dias. Pelo menos desde que as temperaturas decidiram descer abruptamente. Desde que lá fora, onde o sol já nasceu, o frio impera. E adio a saída da cama. Adio acordar para a realidade. Adio, por mais dez minutos, só mais dez minutos, por-me de pé.
Recolhi o braço. Virei-me para o outro lado. Virei as costas aos despertador. Começo, novamente, a entrar no "túnel", a regressar ao sonho, a render-me ao sono. E, quando já me esqueci que há outra realidade para lá daquela que vai na minha cabeça, ele grita. O despertador. O maldito! O tempo passou e esgotou-se. Os (só mais) dez minutos evaporaram-se. Arreliado, volto a estender o braço para mais uma pancada, para silenciá-lo, para acabar com o som estridente que não se silencia sozinho.
Dez minutos. Sempre só mais dez minutos. Sucessivos dez minutos. Todos os dias assim. Todos os dias o tempo a voar entre o toque do despertador e o levantar. Diariamente a querer adiar o inevitável: jamais ficarei na cama, por mais que o frio me faça a roupa colar ao corpo.
Lá fora faz frio. Seria estranho se assim não fosse... E eu gelo. Gelo mal ponho os pés no chão. Gelo assim que a roupa da cama me deixa a descoberto. Assim que fico de pé. E o corpo não cede. Os ossos não rangem e não se queixam. Aperto-me. Aperto a roupa à minha volta. E, de olhos entreabertos, com as pálpebras a despertar, faço o sol invadir o quarto.