quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Charlie está no meio de nós

12. 7. 5. 2. São estes os quatro números que não se podem esquecer. Que carregam consigo um ataque que feriu o Mundo. Um ataque que nos quer calar. A todos. Porque "somos todos Charlie".

Bastaram 5 minutos para que 2 homens matassem 12 pessoas a 7 de Janeiro no coração de França. Em Paris. Destes números, estão oito jornalistas do Charlie Hebdo que, com humor, puseram sempre o dedo na ferida, em nome da liberdade de expressão. Uma liberdade contra o silêncio, o medo, a opressão. Uma liberdade ambicionada durante anos, décadas, pela qual tanto sangue foi derramado. E ontem, em pleno século XXI, voltou a jorrar sangue em nome do silêncio.

Por trás deste ataque bárbaro estava uma louca vontade em vingar o Profeta Maomé. Mas matar em nome do Profeta não faz, também dele, um assassino? Qual é o Profeta, seja do ponto de vista de qualquer religião, que quer ver alguém morrer a sangue frio? Não sei se apelar à sensatez é pedir muito a esses homens de negro, sem rosto, cujas caras começam a revelar-se um pouco por todo o Mundo na comunicação social. E o que será que vai na cabeça desses homens, fechados e perdidos num tempo, cujas crenças passam por puxar o gatilho de uma arma?

O Profeta Maomé, também ele, foi perseguido no seu tempo por ter dito o que pensava, por ter pronunciado uma mensagem que apelava à protecção de duas religiões, o Judaísmo e o Cristianismo. Fora, então, perseguido pelos habitantes de Meca e, inclusive, pelos seus seguidores, que o fizeram abandonar aquela terra em 622. E, agora, em 2015, deparamo-nos com um contra-senso. Como se pode querer calar alguém em nome de um outro alguém que teve que fugir da sua terra com medo de represálias pelo que pensava e proferia? Como se podem agora empunhar armas, sem qualquer racionalidade ou como forma de julgamento, em nome de uma religião? Quereria o Profeta Maomé que se treinasse para disparar, sem hesitar, em nome da religião que criara, o Islamismo?

Sem dó. Sem piedade. 12 pessoas morreram assim, para preservar uma conquista que carrega a luta de gerações. Foram tantos os que lutaram noutros tempos, sem artilharia pesada, sem armas de guerra, para que hoje pudéssemos ter o direito de falar, de nos exprimirmos, de sermos livres. De sermos quem somos. De termos a possibilidade de sair à rua e dizermos, sem medo de represálias, o que pensamos.

E o medo, esse, pode ter voltado a surgir. Mas seremos mais fortes. Não nos calaremos. Não daremos um passo atrás, nem cederemos face ao terrorismo. Sem armas, mas com palavras, uniremos os povos para preservar o que foi conquistado, esse bem tão precioso que é a liberdade de expressão. E estas mortes, numa dia que fará parte da História, manterão vivas a vontade e a necessidade de, todos nós, termos liberdade. A partir de agora, há um nome que não se poderá esquecer: Charlie. Um nome que simbolizará a luta contra o terrorismo, nessa luta sem armas. Um nome que, a partir de agora, estará para sempre no meio de nós.

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