domingo, 26 de abril de 2015

Eterno insatisfeito

Este sou eu: um eterno insatisfeito. Uma espécie de António Variações e o seu "porque só estou bem aonde não estou". Defino-me assim, numa incessante vontade de mudar e crescer, de não estagnar, de fazer o que realmente gosto. Enfim, ser feliz!

Foi sempre isso que pautou as minhas decisões e, até, ditou o meu estado de frustração: a felicidade. Gosto de acordar e saber que as minhas horas do dia vão ser preenchidas por algo que gosto de fazer, pelo qual me gosto de esforçar, transpirar ou até sofrer. Sentir que o tempo dado a algo em que tenho forçosamente que me empenhar irá valer a pena. Não necessita de mudar o Mundo; necessita, apenas e só, de me preencher.

Sempre pus o trabalho à frente de tudo. Porque queria ser bem-sucedido, porque sempre acreditei que iria vingar na área a que me propus trabalhar, porque sempre tive garra. Foram poucas as vezes que desmoronei ou esmoreci. Foram raras as vezes que atirei a toalha ao chão. Mesmo a cair a pique na realização profissional, engoli o choro e segui em frente, a subir os degraus cada vez mais íngremes.

Nunca fui acéfalo, nem dissimulado. Tive sempre o coração na boca e praguejei mesmo quando devia estar calado. Pequei sempre por isso, por falar de mais, muitas vezes sempre pensar, sem ser calculista. Sem medir as consequências, às vezes tão severas, nesta selva laboral. Não porque quisesse mostrar que não tinha medo. Não para ser um herói. Para querer ser transparente? Talvez. Para mostrar que dou valor ao que faço? Quem sabe...

Quis parar quando não era feliz. Quando o amor-próprio falou mais alto. Agora, olhando para trás, percebi que talvez não tivesse a bagagem necessária para aguentar tudo, que talvez não tivesse crescido o quanto acreditava. Cheguei a convencer-me que tinha hipotecado o meu futuro. E, se calhar, hipotequei mesmo... se tivesse aguentado, como seria agora a minha vida? Fui ao fundo, para poder sentir que era feliz, mas depois fiquei arrasado porque não me consegui erguer quando acreditei que seria fácil. E foi difícil. Tão difícil. 

Depois de sair do fundo, vim à tona. Cresci, aprendi e voltei a acreditar. Envolvi-me, ganhei defesas, fui feliz. A vida quis ser uma montanha-russa e eu deixei. Sempre emocional, muito pouco racional. Fui ao sabor do tempo, do que queriam para mim. Pouco importou, se fazia o que realmente gostava. Quando o caminho terminou, saltei para outro trilho, na vontade de fazer algo novo, de mostrar que não paro. Que me consigo reerguer, que já conheço as regras do jogo e posso seguir em frente. Uns dias melhores que outros, é certo. Fiz o que não gostei e o que gostei. Agora faço o que gosto e o que não gosto.

São assim os meus dias, nesta incerteza do que quero. Sempre incerto, sempre insatisfeito. Num sabor agridoce, a acreditar que, em breve, voltarei a fazer o que gosto e me dá prazer. Que trabalhar não é, apenas, sinónimo de "ganhar dinheiro". Mas, até lá, vai-se sobrevivendo, esperando que o amanhã seja sempre melhor. Acreditando, sempre, que haverá ainda muito mais por vir.