domingo, 24 de novembro de 2013

Estados de alma

Abro os estores e olho pela janela. Lá fora, o céu límpido e azul traz um sol convidativo. Um sol que entra pela janela e ilumina a divisão. Um sol longínquo, tão longínquo que não chega para queimar.

Olho para a rua. Vazia. Vazia de gente e de vida. Tão cheia de carros estacionados. Tão cheia de prédios cheios de gente. Está frio. Mas está sol, luminoso e convidativo. A chamar para a rua, para passeios dominicais, para fora do conforto do lar. Para a vida.

E eu cá dentro, a olhar pela janela, a olhar para o sol que se mantém descoberto num céu rasgado por um prédio e outro. E penso, e pondero, e penso, e questiono. Para onde vou? Quero estar como os outros, como aqueles que encheram as ruas cheias de carros estacionados. Parados. Sem sinais de vida. Como aqueles que, mesmo com um sol a brilhar no céu, preferem estar onde mais ninguém está.

Está frio. Gelam-me os dedos, gelam-me as mãos, gelam-me os pés. Gela, até, a ponta do nariz. Mas está sol. Um sol brilhante. Um sol que diz que é seguro sair daqui. Mas eu quero estar aqui. Quero, sim. É aqui que eu quero estar. Como sempre. Como quase sempre. Nesta doce solidão.

Abro a janela. Confirmo que está frio. Maldito frio! O ar gélido invadiu a divisão. Mas está sol. Um sol impotente, sem força para aquecer o corpo e a alma. Um sol incompreendido, que se lhe exige mais que o que pode dar. Mas que, mesmo assim, nos convida a sair para a rua. E eu não quero. Não vou. Vou, sim, ficar aqui. Neste meu casulo. Neste meu lugar. Onde nem o sol, nem o frio vão ficar.

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