segunda-feira, 25 de novembro de 2013

«Se soubesse, tinha trazido um livro!»

Espera-se muito numa sala de espera. Na verdade, se fosse para entrar e não aquecer o lugar, chamar-se-ia «sala de passagem». Mas não. Chamam àquelas salas, onde se passam horas, até, de «sala de espera».

Seja de um hospital, clínica ou dentista, é raro chegar-se a um destes locais e não esperar. «Aguarde por favor na sala de espera», ouvimos. E esperamos. Mas nunca ninguém está pronto para esperar. Nunca, ninguém, está mentalizado para aguardar pelo que quer que seja. É-se impaciente, olha-se pela janela, consultam-se as horas vezes a fio, inventam-se mensagens por telemóvel para enviar. Enquanto se espera. Enquanto se controla o tempo.

O tempo não pára. Nunca. Mas também não acelera. E, sempre que se espera, parece que ele passa mais devagar, lentamente, a passo de caracol. Matreiro, brincalhão, arreliador. A paciência, essa, é que é inimiga do tempo e, numa sala de espera, os dois entram em conflito. A paciência acredita, profundamente, que ele se arrasta; mas ele, sempre no seu ritmo, vai passando sem «dar cavaco» a ninguém.

Um dos pés começa a bater, ritmicamente, no chão. As mãos esfregam-se uma na outra. Os olhos acompanham todas e quaisquer movimentações. Não há meio de a espera terminar! Pega-se no telemóvel. «Abençoada internet móvel!», louva-se. Vê-se tudo o que havia para consultar e mais o que se inventou. A bateria ameaça esgotar-se. Menos a espera, essa é que não se esgota. Arruma-se o telemóvel e suspira-se. Quantos suspiros já se soltaram?

Há quem adormeça. Quem é vencido pelo cansaço da espera, nunca resiste ao peso das pálpebras. Não se inibe de dormir à frente de quem quer que seja, por mais que a cadeira daquela sala seja dura, fria e impessoal. E deixa a cabeça tombar, para trás, para a frente e para os lados, ao ritmo do sonho. Ao lado há sempre alguém acordado, a apreciar essa pessoa, a controlar o relógio na parede, atento à chamada dos pacientes.

Revistas perdidas no tempo, velhas e folheadas vezes sem fim foram deixadas por ali. Há quem pegue nelas para passar o tempo, há quem as ignore por já as conhecer «de cor e salteado». E, inevitavelmente, conclui-se que não há mais o que inventar para fazer frente à espera interminável. Quanto tempo já passou? Quanto, ainda, falta aguardar? Acaba-se sempre por jurar que, para a próxima, vir-se-á preparado para a longa demora. E, antes do suspiro final que dá origem ao abandono daquele espaço, há ainda lugar para um último desabafo: «Se soubesse, tinha trazido um livro!».

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Não se amarrote! Seja educado e tenha bom senso. Faça deste espaço a sua casa, pois se o convidei a entrar, não me deixe mal em ter que o convidar a sair. Obrigado.